segunda-feira, 16 de março de 2009

De Daniel e Clodoaldo

Daniel sapo cururu - bufo ictericus


Gente, acho que o Daniel (nosso amigo sapo) é muito menino ainda ou muito discreto em suas incursões amorosas. Nunca o ouvimos coachar. Dizem que os sapos coacham para seduzir as femeas e que até mudam o coachado se imitados pelos humanos. Eles não querem ser confundidos... Muito espertos.
Estamos achando que se trata de um sapo cururu - bufo ictericus, pois cresce muito a cada dia e sendo assim, contamos com sua companhia por pelo menos 15 anos. Ainda temos que descobrir se Daniel é macho ou fêmea.
Hoje li a crônica do Sapo Clodoaldo, pela amiga Tania, da Armação dos Anjos, que consta da Usina de letras. Então empresto as palavras dela para traduzir um pouco de nossa amizade com o nosso vizinho Daniel, que partilha nosso chalé sendo bem aceito por todos os frequentadores.
Posto aqui, que vale o registro:

A visita de Clodoaldo - Tânia Cristina Barros de Aguiar

Leve barulho. Saio da sala para investigar...dou de cara com o Clodoaldo. Quiçá a sexta geração, ocupando o mesmo lugar na varanda. Todo verão. Aliás, somente ganhou nome e regalias lá pelo terceiro deles. Como não reconheço sinais específicos, prefiro pensar que é o velho amigo de sempre, com seus olhos tristes, quietos, se fazendo de invisível.
- Olá, Clodô... quanto tempo, hein?
Dia seguinte, cedo. Chega a telefônica. O defeito de sempre, na linha da internet. Barulhos. Tantos e tão instigantes que cheguei a pensar em contatos extraterrenos. Como o defeito se repete e é consertado na mesma tomada que ninguém usa – simples passagem - fica o mistério.
Gentilmente, aviso:
- Cuidado com o Clodoaldo.
É que a telefônica sempre começa sua árdua investigação de defeitos repetidos na caixa de entrada, na varanda. Quero evitar pisões e gritos.
- Ah, não, moça. Melhor prender o cachorro.
- Cachorro? Que cachorro? Ah, não, Clodoaldo é o meu sapo.
Pronto.
- Sapo? Que sapo? A senhora (já muda o tom de voz) tem sapo?
Resumo: deixou-me o conserto pela metade. Estou incomunicável das 22 horas em diante. Pelo telefone, claro.
À noite, filha pergunta pelo jantar.
- Está na geladeira de fora. Vai pegar.
- Não vou não, o sapo ta lá.
Dia seguinte, Marta, a secretária:
- Corre Edu , corre aqui que tem um sapo enorme.
Vai-se o marido desabalado e eu atrás: larga meu sapo. Quem triscar no Clodoaldo, vai se ver comigo. Larga ele, larga ele. É o Clodoaldo, é o Clodoaldo.
Marta, desesperada: ele vai ficar aí, é? Você não tem medo de sapo?
Não respondo. Tenho lá medo de sapo. Ainda fosse uma barata, aí sim, valia uns bons gritos, corridas pela casa. Nem posso correr, ficaria com os gritos. Mas o Clodoaldo? Tem dó... Clodoaldo, é visita.
Dia seguinte, à noite, Melissa chega.
- Tia, a Amanda falou que tem um sapo na varanda. É verdade? Ele taí? Aonde? Ai, meu Deus, cadê o sapo?
- Sossega, Melissa. Clodoaldo sumiu. Não sei porque... Sempre passa o verão inteiro.
Desconfio do Edu. Pergunto:
- Edu, você viu o Clodoaldo?
- Clodoaldo? Que Clodoaldo?
-O sapo, Edu. O sapo.
Meio disfarçado:
- Vi. Tava na horta, debaixo das alfaces.
Eu, séria, encarando:
- É? E cadê ele, agora?
Se entrega:
- Não sei. Tava lá. Eu não matei ele não. Mas, quase. Pensei: comer alface com gosto de costa de sapo?
Ora, que gosto tem costa de sapo? Sapo na alface? Nunca vi. E tenho história de colher alface...
Sábado, dias depois, chegando em casa de madrugada, tive a impressão de ouvir coaxar. Clodoaldo é sempre tão silencioso... Bem, quem sabe encontrou sua sapa-metade e está cantando de feliz... Afinal, hoje, meu gnomo preferido – o Folhaverde – estava caído de lado, debaixo do pé de eucalipto, um local úmido, sombreado, propício a noites de paixão anfíbia, com pulos e coaxares.
Dez/2000.
Tânia Aguiar é aquariana e poeta.

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